A liturgia do 4º Domingo da Quaresma garante-nos que Deus nos
oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna. Deus nos
amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos
oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele
a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da
vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.
No evangelho, Jesus
começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”,
como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da
caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma
serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam). A imagem
do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário
para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor
e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a
salvação, a vida plena..
Aos homens é sugerido que
acreditem no “Filho do Homem” levantado na cruz, para que não pereçam, mas
tenham a vida eterna. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e
à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus,
dom total da própria vida a Deus e aos irmãos. É dessa forma que se chega à
“vida eterna”.
Jesus, o “Filho único”
enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, é o
grande dom do amor de Deus à humanidade. Jesus, o “Filho único” de Deus, veio
ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens. Para isso, encarnou
na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade,
partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar
contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso,
torturado e morto numa cruz.
A cruz é o último ato de
uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão
suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável
amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação.
Qual é o objetivo de Deus
ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens?
É libertá-los do egoísmo,
da escravidão, da alienação, da morte, e dar-lhes a vida eterna. Com Jesus – o
“Filho único” que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida definitiva
está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor.
Ao enviar ao mundo o seu
“Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva.
O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da
salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens – a
vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os
transforma em Homens Novos.
Deus enviou o seu Filho
único ao encontro de homens pecadores, egoístas, auto-suficientes, a fim de
lhes apresentar uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o
Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos,
auto-suficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena.
Diante da oferta de
salvação que Deus faz, o homem tem de fazer a sua escolha. Quando o homem
aceita a proposta de Jesus e adere a Ele, escolhe a vida definitiva; mas quando
o homem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de auto-suficiência,
rejeita a proposta de Deus e auto-exclui-se da salvação.
A salvação ou a
condenação não são, nesta perspectiva, um prêmio ou um castigo que Deus dá ao
homem pelo seu bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre
do homem, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A
responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim,
sobre Deus, mas sobre o homem.
Em resumo: porque amava a
humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de
salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de
resposta. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou
pode excluir-se da salvação.
Brasília,
13 de março de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário