No 2º Domingo
do Tempo da Quaresma a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro
discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta
de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos
do Pai.
O Evangelho
relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo
Testamento, é apresentada uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que
vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da
vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e
definitiva. Segui-o, vós também.
Literariamente,
a narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de
Deus. Os sinais tais como: o monte,
a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem
e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino
são elementos evidentes de uma teofania. Não estamos diante de um relato
fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos
homens um projeto que vem de Deus.
O monte situa-nos num contexto de
revelação: é sempre num monte que Deus Se revela; e, em especial, é no cimo de
um monte que Ele faz uma aliança com o seu Povo.
A mudança do rosto e as vestes brilhantes,
muitíssimo brancas, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai, depois
de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei.
A nuvem, por sua vez, indica a presença
de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o
seu Povo através do deserto.
Moisés e Elias representam a Lei e
os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso,
são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia
do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva.
O temor e a perturbação dos discípulos
são a reação lógica de qualquer homem ou mulher, diante da manifestação da
grandeza, da onipotência e da majestade de Deus.
As tendas parecem aludir à “festa das
tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em
“tendas”, no deserto.
A mensagem
fundamental pretende dizer quem é Jesus, que Ele é o Filho amado de Deus, em
quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, esse Messias libertador e
salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas
(Elias).
Mais ainda:
Ele é um novo Moisés – isto é, Aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu
Povo a nova lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova Aliança.
Da ação
libertadora de Jesus, o novo Moisés, irá nascer um novo Povo de Deus. Com esse
novo Povo, Deus vai fazer uma nova Aliança; e vai percorrer com ele os caminhos
da história, conduzindo-o através do “deserto” que leva da escravidão à
liberdade.
Meus amigos, a
questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de
Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e
libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total
de Si próprio por amor.
Pela
transfiguração de Jesus, Deus demonstra que uma existência feita dom não é
fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no
final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua
vida ao serviço dos irmãos.
É fato que por
vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos
esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos
sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do
mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que
caminham ao nosso lado…
A
transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não
conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
Ser seguidor
de Jesus muitas vezes requer o "nadar contra a corrente". A religião
não é um ópio que nos adormece, mas um compromisso com Deus, que se faz
compromisso de amor com o mundo e com os homens.
Brasília
27 de fevereiro de 2015.
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