Primeira
Bem-Aventurança - POBRES EM ESPÍRITO
Audiência
Geral de 05/02/2020 – Sala Paulo VI
A catequese do Papa Francisco foi dedicada à
primeira bem-aventurança proclamada por Jesus: bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus
(Mt 5,3).
O Pontífice começou explicando o significado de
“pobres”: aqui não se trata simplesmente de uma pobreza material, mas de ser
pobres em espírito. O espírito, segundo a Bíblia, é o sopro da vida que Deus
comunicou a Adão, é a nossa dimensão mais íntima, a dimensão espiritual, a que
nos torna pessoas humanas, o núcleo profundo do nosso ser. Portanto, os “pobres
em espírito” são aqueles que são e se sentem pobres, mendicantes, no íntimo de
seu ser.
“Quantas vezes ouvimos o contrário! É preciso ser
alguém, ser alguém… é disto que nasce a solidão e a infelicidade: se devo ser
'alguém', estou competindo com os outros e vivo na preocupação obsessiva pelo
meu ego. Se não aceito ser pobre, sinto ódio por tudo aquilo que recorda a
minha fragilidade."
Digerir
os próprios limites
Diante de si, cada um sabe que, por mais que faça,
permanece sempre radicalmente incompleto e vulnerável. Não tem truque que cubra
essa vulnerabilidade. Cada um de nós é vulnerável dentro. Mas como se vive mal
rejeitando os próprios limites! Vive-se mal, não se digere o limite. Está ali.
As pessoas orgulhosas não pedem ajuda porque querem se mostrar
autossuficientes. Quantos precisam de ajuda, mas o orgulho lhes impede de pedir
ajuda. E quanto é difícil admitir um erro e pedir perdão!
Francisco recordou que quando dá um conselho aos
recém-casados sobre como levar avante o matrimônio, diz três palavras mágicas:
com licença, obrigado, desculpa.
"Palavras que vêm da pobreza." "Os casais me dizem que a
terceira é a mais difícil, porque quem é orgulhoso não consegue pedir desculpa,
tem sempre razão. Não é pobre."
Cansaço
de pedir perdão
Ao invés, o Senhor jamais se cansa de perdoar;
somos nós que nos cansamos de pedir perdão. "O cansaço de pedir perdão é
uma doença ruim."
Pedir perdão, acrescentou o Papa, humilha a nossa
imagem hipócrita, mas Jesus nos recorda que ser pobres é uma ocasião de graça e
nos mostra o caminho para sair desta angústia de se mostrar perfeito. Nos foi
dado o direito de ser pobres em espírito, porque este é o caminho do Reino de
Deus.
Mas se deve reiterar algo fundamental: não devemos
nos transformar para nos tornar pobres em espírito, porque já o somos!
Precisamos de tudo. Somos todos pobres em espírito, mendicantes. É a condição
humana.
Os
reinos deste mundo caem
O Reino de Deus é dos pobres em espírito, mas há
também os reinos deste mundo, feitos de pessoas com posses e comodidades. Mas
são reinos que acabam. O poder dos homens, inclusive os maiores impérios,
passam e desaparecem. "Mas vemos na televisão, nos jornais, governantes
fortes, poderosos, mas caíram. Ontem eram, hoje não são mais. As riquezas deste
mundo vão embora, também o dinheiro. O sudário não tinha bolsos. Nunca vi atrás
de um cortejo fúnebre um caminhão de mudanças."
Reina realmente quem sabe amar o verdadeiro bem
mais que a si mesmo. Este é o poder de Deus. Cristo se mostrou poderoso porque
soube fazer o que os reis da terra não fazem: dar a vida pelos homens.
“Este é o poder verdadeiro: poder da fraternidade,
da caridade, do amor, da humildade. Isso fez Cristo. Nisto está a verdadeira
liberdade. Quem tem os poderes da humildade, do serviço, da fraternidade, é
livre.”
O Papa então concluiu: "Há uma pobreza que
devemos aceitar, a do nosso ser, e uma pobreza que, ao invés, devemos buscar,
aquela concreta, das coisas deste mundo, para ser livres e poder amar. Sempre
buscar a liberdade do coração, aquela que tem raízes na pobreza de nós
mesmos."
Disponível
em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-02/papa-francisco-audiencia-geral-pobres-em-espirito.html