sexta-feira, 30 de março de 2012

MAIS QUE UM CONHECIDO


Ouvi de uma pessoa a seguinte frase - Deus é um mistério, mas não é um desconhecido. Enquanto ela falava, sua voz lentamente esvaía-se dos meus ouvidos e meus pensamentos alcançavam vôos mais longínquos. Um mistério sim, mas um desconhecido, isso não! Eu, até então, via-me numa relação de intimidade com Deus, olhei com mais carinho nossa amizade. Estaria negligenciando sua autoridade por ter-me tornado tão “chegada”? Afinal, Ele me conhece melhor que eu mesma...

Fiquei analisando o que seria um “mistério”, sobretudo o mistério da Santíssima Trindade. Lembrei-me de Santo Agostinho, ao referir-se que a alma humana criada à imagem e semelhança de Deus só chegará a ser imagem de Deus enquanto a alma não só se conhecer e amar a si mesma, mas amar a Deus. Quanta verdade, pois só se ama o que se conhece e constato - Deus é amor e bondade infinita – como o ar que respiro. E, por mais que me esforce, jamais compreenderei a real dimensão do amor de Deus por mim. Tanto é verdadeiro e fascinante, quanto misterioso, chegando a ser, por vezes, frustrante.

No meu coração arde um desejo infinito de ver Deus, de estar com Ele. Foi mesmo Deus que inscreveu esse desejo em meu coração, por isso sou atraída para Ele, por minha própria natureza e vocação. Isto explica porque, apesar de muitas vezes ignorá-Lo, sou capaz de entrar em comunhão com Deus. Ora, “sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja”, como ressalta o Papa Bento XVI na conclusão da Carta Encíclica Caritas in Veritate. De fato, a criatura atinge sua plenitude só em Deus, seu Criador.

E apesar das limitações humanas, é possível, sim, ao ser humano conhecer a Deus somente com a luz da razão, todavia sozinho não pode entrar em intimidade com o mistério divino. Para isso, Deus vem ao seu encontro e dá-se a conhecer pela Revelação, ao enviar seu Filho Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo. Jesus é o mediador e a plenitude da Revelação, portanto a Revelação está plenamente realizada.

Tudo isso é um mistério. Sendo Deus trino – Pai, Filho e Espírito Santo – são três pessoas da mesma essência: o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que é a processão. Entretanto, não são três deuses, nem três sábios, nem três luzes, nem três consciências. Distintas relações umas com as outras, no entanto não são opostas, pois a atuação divina somente é possível porque Deus é trino (“....o que está no Pai está no Filho, o que está no Ingênito está no Unigênito...”). Há em Deus três pessoas na unidade da essência, sem subordinação. Portanto, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são na unidade de sua essência um único Deus, e na diversidade de suas pessoas são precisamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Verdadeiramente, há distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo em virtude das relações recíprocas, mas subsistem na unidade e no amor, pois cada pessoa é Deus inteiramente.

Brasília 29.03.2012
Maria Auxiliadôra