quarta-feira, 1 de abril de 2015

QUARESMA - 5º DOMINGO



Na liturgia do 5º Domingo da Quaresma ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao homem o caminho da salvação e da vida definitiva.

A Palavra de Deus garante-nos que a salvação passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projetos de Deus e na doação total aos irmãos.

O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l’O no caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna que Deus nos quer oferecer. Ouçam com atenção:

Meus amigos, nestes dias que antecedem a grande festa da vida, vamos proclamar com mais intensidade a nossa fé, colocando em prática tudo que aprendemos nesta nossa caminhada de preparação para a Páscoa!

Ao longo deste tempo Quaresmal, em que buscamos uma proximidade maior com Deus, podemos dizer que muita coisa já mudou em nós! Já temos a consciência de que não podemos viver de qualquer jeito, de que precisamos viver do jeito de Jesus, sem fugirmos das cruzes, sem buscarmos atalhos pra encurtar o caminho.

O evangelho do 5º Domingo da Quaresma nos convida a pautar a nossa vida no exemplo de Jesus, a assumir a fé com todas as suas consequências!

Enquanto as autoridades judaicas tramavam a morte de Jesus, alguns gregos, que haviam subido para Jerusalém, a fim de adorar a Deus durante a Páscoa dos Judeus, sentiram-se desejosos de ver Jesus!

Certamente, aqueles gregos já haviam ouvido falar de Jesus. Ao invés de irem diretamente a Ele, optaram por um intermediário, eles aproximaram-se de Felipe e disseram: “Senhor, queremos ver Jesus!” Felipe convidou André e os dois, levaram o fato ao conhecimento de Jesus, que ao invés de combinar um encontro com os gregos, Ele dirige-se aos discípulos, aproveitando aquela oportunidade, para falar da sua volta ao Pai!

Jesus sabia de tudo que estava para lhe acontecer, mas Ele não foge do confronto. Mesmo no momento crucial de sua vida, quando a angústia já tomava conta do seu coração “humano,” Jesus ainda encontra força para falar da fecundidade da vida, referindo-se sobre os frutos que seriam produzidos com a sua morte!

No caminho para a cruz, Jesus fala de vida, dando o exemplo de uma semente que só produz frutos, quando cai na terra e morre! Falando de uma semente, Jesus fala de si mesmo, Ele seria aquela semente que morreria na terra para produzir frutos!

Falando claramente de sua morte, Jesus, delega aos discípulos, a incumbência de torná-Lo conhecido, não somente pelos gregos, mas pelo mundo inteiro, o que realmente aconteceu depois de sua morte e ressurreição!

Foi a partir da Cruz, que Jesus tornou conhecido em todos os rincões da terra!

Finalizando a sua missão aqui na terra, Jesus advertiu aos discípulos e hoje a nós, sobre o perigo do apego a nossa vida terrena! A sua mensagem é clara: somente quem é desapegado, desprendido, é livre para servir!

Ora, o primeiro passo de quem quer seguir Jesus deve ser renunciar a si mesmo, para tornar-se um servidor do Reino! A opção deve ser radical! Um verdadeiro seguidor de Jesus deve apresentar-se a Ele, completamente livre de qualquer apego.

Meus amigos, muitos querem "ver" Jesus, mas desconhecem o caminho para chegar até Ele! Então, sejamos como Felipe, tornemo-nos caminho para que o outro possa, chegar à Jesus! Para que o outro possa conhecer Jesus e descobrir um tesouro de valor incalculável.

Brasília 20 de março de 2015.

QUARESMA - 4º DOMINGO



A liturgia do 4º Domingo da Quaresma garante-nos que Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna. Deus nos amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.

No evangelho, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam). A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena..

Aos homens é sugerido que acreditem no “Filho do Homem” levantado na cruz, para que não pereçam, mas tenham a vida eterna. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos. É dessa forma que se chega à “vida eterna”.

Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens. Para isso, encarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto numa cruz.

A cruz é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação.

Qual é o objetivo de Deus ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens?

É libertá-los do egoísmo, da escravidão, da alienação, da morte, e dar-lhes a vida eterna. Com Jesus – o “Filho único” que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida definitiva está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor.

Ao enviar ao mundo o seu “Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva. O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens – a vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os transforma em Homens Novos.

Deus enviou o seu Filho único ao encontro de homens pecadores, egoístas, auto-suficientes, a fim de lhes apresentar uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos, auto-suficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena.

Diante da oferta de salvação que Deus faz, o homem tem de fazer a sua escolha. Quando o homem aceita a proposta de Jesus e adere a Ele, escolhe a vida definitiva; mas quando o homem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de auto-suficiência, rejeita a proposta de Deus e auto-exclui-se da salvação.

A salvação ou a condenação não são, nesta perspectiva, um prêmio ou um castigo que Deus dá ao homem pelo seu bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre do homem, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim, sobre Deus, mas sobre o homem.

Em resumo: porque amava a humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de resposta. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação.



Brasília, 13 de março de 2015.

QUARESMA - 3º DOMINGO


A passagem do Evangelho do 3º Domingo da Quaresma está logo imediatamente a seguir ao sinal de Jesus em Caná da Galileia. Há algumas expressões e frases que se repetem nas duas cenas e fazem pensar que o autor tenha querido criar um contraste entre os dois episódios.

Em Caná, uma aldeia da Galileia, durante uma festa de bodas de casamento, uma mulher hebreia, a mãe de Jesus, demonstra uma confiança ilimitada em Jesus e convida a acolher a sua palavra. Por outro lado, “os judeus” durante a celebração da Páscoa em Jerusalém recusam acreditar em Jesus e não acolhem a sua palavra.

Em Caná Jesus fez o primeiro sinal, aqui os judeus pedem um sinal, mas não aceitam o sinal que Jesus lhes dá. A ação e a palavra de Jesus suscitam duas reações. A primeira, a dos discípulos, é de admiração; a segunda, a dos “judeus”, é de desacordo e de confrontação. Eles pedem uma explicação a Jesus, mas não estão abertos a acolhê-la.

“Os judeus” não podem entender o verdadeiro significado da palavra de Jesus. Nem mesmo os discípulos, que o admiram como um profeta cheio de zelo pela causa de Deus, a podem entender agora: somente depois do seu cumprimento acreditarão na palavra de Jesus.. Mas esta fé baseada somente nos sinais não entusiasma Jesus.

Algumas perguntas para ajudar na meditação e na oração

- Sou capaz de me confiar completamente a Deus num ato de fé ou peço sempre sinais?

- Sou capaz de confiar a minha família a Deus?

- Deus proporciona-me muitos sinais da sua presença na minha vida. Acolho-os?

- Contento-me com um culto exterior ou procuro oferecer a Deus o culto da minha obediência na vida diária?

- Quem é Jesus para mim?


Brasília, 06 de março de 2015.

QUARESMA - 2º DOMINGO


No 2º Domingo do Tempo da Quaresma a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.

O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, é apresentada uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.

Literariamente, a narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Os sinais tais como: o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino são elementos evidentes de uma teofania. Não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos homens um projeto que vem de Deus.

O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus Se revela; e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma aliança com o seu Povo.

A mudança do rosto e as vestes brilhantes, muitíssimo brancas, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai, depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei.

A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto.

Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva.

O temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer homem ou mulher, diante da manifestação da grandeza, da onipotência e da majestade de Deus.

As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.

A mensagem fundamental pretende dizer quem é Jesus, que Ele é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias).

Mais ainda: Ele é um novo Moisés – isto é, Aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova Aliança.

Da ação libertadora de Jesus, o novo Moisés, irá nascer um novo Povo de Deus. Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova Aliança; e vai percorrer com ele os caminhos da história, conduzindo-o através do “deserto” que leva da escravidão à liberdade.

Meus amigos, a questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor.

Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.

É fato que por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que caminham ao nosso lado…

A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.

Ser seguidor de Jesus muitas vezes requer o "nadar contra a corrente". A religião não é um ópio que nos adormece, mas um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
Brasília 27 de fevereiro de 2015.