terça-feira, 18 de março de 2014

“Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito”.


A liturgia do 7º Domingo do Tempo Comum - Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5, 38-48), convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical, feito de gestos concretos de amor e de partilha.

É um convite. Somos convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.

Jesus pede aos seus discípulos que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém, nem mesmo os inimigos. É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.

Disse Jesus aos seus discípulos: “Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Olho por olho e dente por dente’.

Temos aqui o princípio de talião, também conhecido como Lei de Talião, lei que estabelece um castigo igual ao delito: "Para tal delito, tal castigo", é o princípio "olho por olho, dente por dente”. O criminoso era punido talmente, ou seja, de maneira igual, ao dano causado ao outro. A punição era dada de acordo com a categoria social do criminoso e da vítima. Em si, era uma lei razoável, destinada a evitar as vinganças excessivas, brutais, indiscriminadas…

Então, continua Jesus, e ai vem a novidade deste Evangelho, Jesus continua:

Eu, porém, digo-vos: Não resistais ao homem mau. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pede emprestado. Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo’. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos. Se amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem a mesma coisa os publicanos? E se saudardes apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário?Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito».

Jesus ensina e exige o perdão. Perdoar a quem nos perdoa é fácil, mas para ser um verdadeiro cristão temos que perdoar aos nossos inimigos. A ordem de Jesus é bem clara!

Em muitas situações somos machucados, feridos e humilhados e a maioria das vezes por pessoas que não esperávamos, pessoas próximas de nós. Diante destas situações da vida, como agir? O que fazer?

Ora, temos de ser luz mesmo muitas vezes tendo que passar por cima do nosso orgulho que grita dentro de nós para que paguemos com a mesma moeda. Por isso, temos que ter a grandeza de reconhecer que o único incapaz de cometer contra nós estas faltas é somente o Senhor que nunca nos decepcionará. Nós, seres humanos, somos imperfeitos. Muitas vezes achamos que somos melhores do que o outro que está ao nosso lado, e o ferimos. Somos incapazes de ver no outro a face do Pai, talvez se fizéssemos este exercício de lembrar que o outro é a imagem e semelhança de Deus, teríamos mais compaixão uns pelos outros.

Então, peçamos a Jesus para que aprendamos a dar este perdão que é algo divino e que só os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo são capazes de dar. Sabemos que o perdão não é o esquecimento do fato, não é como um passe de mágica que de repente se esquece tudo, não é esperar que tudo se resolva de uma vez, é um exercício diário. Não podemos esquecer que estamos sujeitos ao erro e que somos pecadores e necessitados do perdão divino.

Da mesma forma que espero o perdão de Deus, o meu próximo também precisa do meu. Para sermos perdoados por Deus temos que dar o perdão a todos àqueles que de uma forma ou de outra nos ofenderam.

Sigamos o exemplo de Deus que nos perdoou de nossos pecados dando seu filho único para que fossem remidas todas as nossas faltas e em nenhum momento fica nos lembrando dos pecados confessados, pois, o Senhor não os coloca de lado para sempre nos lembrar, Ele os apaga. Pecados confessados são pecados esquecidos.

Não deixemos que a mágoa ou o rancor nos corroa por dentro, nos afastando Daquele que só nos amou e continua a nos amar mesmo diante das nossas infidelidades. Lembre-se: somente estando ao lado D’aquele que é a fonte do perdão seremos capazes de perdoar.

Converse sempre com Jesus, Ele sempre te mostrará o caminho a seguir, te dará a grandeza de aprender a perdoar.

O pedido de Jesus apresenta uma verdadeira novidade. Para Jesus, não basta amar aquele que está próximo, aquele a quem me sinto ligado por laços étnicos, sociais, familiares ou religiosos; mas o amor deve atingir todos, sem exceção, inclusive os inimigos.

Fica, assim, abolida qualquer discriminação, sabe por que? Porque Deus não faz discriminação no seu amor. Ele faz brilhar o sol e envia a chuva sobre bons e maus, que oferece o seu amor a todos, inclusive aos indignos. O amor universal de Deus é a razão do amor que os membros do “Reino” devem oferecer a todos os homens e mulheres que Deus coloca no seu caminho.

Façamos um propósito, que acredito seja o começo para uma grande mudança: Tratar todas as pessoas com que eu me encontre com respeito e amabilidade. Já é um bom caminho, certo?

Brasíllia 21/02/2014
Maria Auxiliadôra


TRANSFIGURAÇÃO


Hoje refletiremos sobre o tema do 2º Domingo da Quaresma (Mt 17,1-9). Jesus nos mostra sua Majestade e seu sofrimento para nos ensinar que não há triunfo se não houver batalha e que o verdadeiro discípulo deve seguir o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, da obediência total e radical aos planos do Pai.

Esse Evangelho traz o relato da Transfiguração de Jesus, que é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus.

A Transfiguração é a mudança de aspecto de Jesus na presença de seus três discípulos prediletos: Pedro, Tiago e João. E é antecedido do primeiro anúncio da paixão e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo, convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida. Portanto, esse fenômeno está unido ao anúncio da paixão que Jesus faz várias vezes naqueles mesmos dias.

Pois bem, a mensagem fundamental da Transfiguração é que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, o Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei e pelos Profetas. Mais ainda: Ele é um novo Moisés – isto é, aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova aliança. Jesus, Filho amado de Deus, é que vai concretizar o projeto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de si próprio por amor.

Como podemos ver, a Transfiguração de Jesus é para nós um sinal, um grito de alerta, para que não desanimemos, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim, embora, ser seguidor de Jesus muitas vezes nos obrigue a nadar contra a corrente, porém, todo aquele que quiser ter uma vida própria e independente não pode ser discípulo de Jesus, já que a regra da vida plena não é fazer o que convém.

Devemos aprender a fazer a vontade de Deus, devemos querer, desejar fazer a vontade do Pai, para o nosso próprio bem, para sermos verdadeiramente felizes. Devemos conhecê-Lo e uma maneira é através da oração. Observe que a Transfiguração de Jesus se realizou numa situação de oração, quando relata que Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu ao monte para rezar.

Estamos na Quaresma. Esta convida-nos a um itinerário a ser percorrido em que é preciso três elementos para a nossa jornada espiritual: a oração, o jejum e a penitência. Como Jesus, que tomou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu ao monte para rezar, façamos da oração um momento único em nossa vida, pois ela é a força do cristão e de toda pessoa que crê.

Especialmente na Quaresma, que é um tempo de oração, dediquemo-nos mais a rezar, a fazer uma oração mais intensa, mais assídua, mais capaz de cuidar das necessidades dos nossos irmãos, de interceder junto a Deus por tantas situações de pobreza, sofrimento, solidão de Deus. Você não precisa usar de palavras difíceis... basta fazer a Oração de Jesus, também chamada de Oração do Coração: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador”.
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador”.
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador”.

Brasíllia 14/03/2014

Maria Auxiliadôra

PRIORIDADES


Inicio essa reflexão com uma pergunta: Você tem prioridades? Se tem, quais são?

Normalmente, todos têm prioridades, seja em casa, seja no trabalho, seja na vida profissional. Você já parou para pensar nisto?

Por exemplo: um rapaz acabou de se formar e pretende trabalhar. O que ele pode fazer? Pode fazer um concurso, pode distribuir currículo... Se ele optar por fazer concurso, o mínimo que tem a fazer, além de se inscrever, é se preparar. Como? Estudando. Às vezes, pode ser necessário frequentar um cursinho, assistir aulas até mesmo em fins de semana. Mas, aí aparece um churrasco exatamente na hora da aula e ele vai ter que optar entre assistir aula ou cair na gandaia. Ele terá que pesar o que é mais importante naquele momento, é questão de prioridade! E a prioridade é questão de escolha, que exige sacrifício e renúncia. Se aquele rapaz deseja assumir aquele cargo, deve escolher estudar adequadamente, comer adequadamente, dormir adequadamente para que atinja seu objetivo.

Assim, todos os dias, temos escolhas, pois todo ser humano tem desejos e aspirações. A dificuldade está em saber se escolhemos corretamente ou não. É preciso discernimento.

Por isto, a liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum - Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 6, 24-34), propõe-nos uma reflexão sobre as nossas prioridades. Recomenda que dirijamos o nosso olhar para o que é verdadeiramente importante e que libertemos o nosso coração da prisão dos bens materiais. Convida-nos a buscar o essencial - o Reino de Deus - diante de coisas secundárias que, dia a dia, ocupam o nosso interesse. Escolher o essencial não é negligenciar o resto – não é nada disso: Deus é um pai misericordioso, bom, cheio de solicitude por nós e provê com amor às nossas necessidades.

No Evangelho, quando Jesus afirma que ninguém pode servir a dois senhores, ou seja, a Deus e ao dinheiro, Ele está se referindo justamente às pessoas que constroem suas vidas em torno dos bens materiais, que valorizam a lógica do ter, deixando-se dominar pelo dinheiro. O dinheiro, para essas pessoas, ocupa o lugar de Deus, ou seja, Deus fica em segundo lugar. Ora, o amor ao dinheiro fecha totalmente o coração da pessoa, ela torna-se egoísta, prepotente, injusta, corrupta, auto-suficiente e não deixa qualquer espaço para o amor ao próximo. Não podemos e não devemos ter amor ao dinheiro, do contrário a nossa vida terá sido um tremendo equívoco.

Parece absurdo falar dessa maneira, especialmente por vivermos numa sociedade onde o dinheiro é, hoje, o verdadeiro centro do poder no mundo. Ele compra consciências, poder, projeção social e até reconhecimento. Por ele mata-se, calcam-se aos pés os valores mais fundamentais, renuncia-se à própria dignidade, envenena-se o ambiente, escravizam-se pessoas.

É verdade, quando a lógica do “ter mais” entra no coração do homem e o domina, o homem torna-se escravo e, por sua vez, leva à escravidão os outros homens. Repito, a pessoa torna-se injusta, prepotente e exploradora, passa indiferente ao lado dos irmãos que vivem abaixo do limiar da dignidade humana, deixa de ter tempo para gastar com aqueles que ama e inclusive relega Deus para a lista dos valores secundários.

E aí, como nos situamos em face disto? Qual a proposta de Jesus? Será um convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no comodismo, na indiferença? Certamente que não.

Jesus convida-nos a pôr, em primeiro lugar, as coisas verdadeiramente importantes, ou seja, o “Reino”, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. Ele mesmo disse: Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo.

Em segundo lugar, a relativizar as coisas secundárias, ou seja, as preocupações exclusivamente materiais. Preste atenção, não é cruzar os braços à espera que Deus faça chover aquilo de que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando todos os dias, fazer a nossa parte. No caso daquele rapaz do início da nossa reflexão, estudar, se preparar...

Pergunte-se novamente: Quais são as minhas prioridades? Em que é que eu tenho apostado incondicionalmente a minha vida? Peça ao Espírito Santo discernimento, por que as propostas equívocas de felicidade criam, muitas vezes, desorientação e confusão. Coloque a sua confiança e a sua esperança em Deus. Ele o ama! Conhece as suas dores e necessidades e pega você no colo nos momentos mais dramáticos da sua caminhada.

Brasília 28/02/2014
Maria Auxiliadôra


MENSAGEM DO PARA FRANCISCO PARA A QUARESMA 2014


O Papa Francisco envia mensagem especialmente por ocasião da Quaresma com a esperança de que possa servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão.

O Santo Padre, tomando como fonte de inspiração a frase de São Paulo: Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9), questiona os cristãos de hoje o que lhes dizem essas palavras e o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico.

Tais palavras, conforme o Papa, dizem respeito ao estilo de Deus, que não se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza, ou seja, a finalidade de Jesus em se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas para enriquecer as pessoas com a sua pobreza, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. É precisamente o modo de amar de Jesus, o seu aproximar-Se de cada um, de tomar para Si as fraquezas e os pecados do ser humano, comunicando a este a infinita misericórdia de Deus.

E continua, “a riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu ‘jugo suave’, convida-nos a enriquecer-nos com esta sua ‘rica pobreza’ e ‘pobre riqueza’, a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos nos Irmão Primogênito.”

Nessa mensagem, o Papa sublinha três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual.

A miséria material, comumente chamada de pobreza, atinge os que vivem numa condição indigna da pessoa humana, ou seja, privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiênicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Diante dessa miséria, “a Igreja oferece o seu serviço, a sua diaconia, para responder às necessidades e curar essas feridas que desfiguram o rosto da humanidade”. Por isso, “os nossos esforços se orientam a encontrar o modo de acabar com as violações da dignidade humana no mundo, com as discriminações e com os abusos”.

A miséria moral é aquela que nos “transforma em escravos do vício e do pecado”. O papa fala das pessoas que “perderam o sentido da vida, estão privadas de perspectivas para o futuro e perderam a esperança” E faz referência ainda às “pessoas que se veem obrigadas a viver essa miséria por causa de condições sociais injustas, por falta de trabalho, o que as priva da dignidade de levar o pão para casa, por falta de igualdade no direito à educação e à saúde”. Nesses casos, Francisco afirma que a miséria moral bem poderia ser chamada de “suicídio incipiente”.

Por fim, a miséria espiritual, “que nos golpeia quando nos afastamos de Deus e rejeitamos o seu amor”. O Santo Padre avisa que, “se considerarmos que não precisamos de Deus, nos encaminharemos para a estrada do fracasso”, porque “Deus é o único que salva e liberta verdadeiramente”.

Recordando que o cristão é chamado a transmitir em todos os ambientes o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, o Papa Francisco afirma que “é bonito experimentar a alegria de estender esta boa nova, de compartilhar o tesouro que nos foi confiado, para consolar os corações aflitos e dar esperança a tantos irmãos e irmãs submersos no vazio”.

Para encerrar, o pontífice lembra que a Quaresma “é um tempo adequado para se despojar. E nos fará bem perguntar-nos de que podemos nos privar para ajudar e enriquecer os outros com a nossa pobreza”. Por fim, enfatiza que a “verdadeira pobreza dói”, avisando: “Desconfio da esmola que não custa nem dói”.

Brasília, fevereiro/2014
Maria Auxiliadôra