"Da janela de seu escritório no
Palácio Apostólico, na celebração dos fiéis defuntos, o Papa rezou o Angelus
com uma multidão presente na Praça de São
Pedro.
Dirigindo-se
aos fiéis e peregrinos de todo o mundo, que o saudava com um longo aplauso, o
pontífice argentino disse:
Queridos
irmãos e irmãs, bom dia!
Ontem
celebramos a Solenidade de Todos os Santos e hoje a liturgia nos convida a
celebrar os fiéis defuntos. Estas duas festas estão intimamente relacionadas
entre si, assim como a alegria e as lágrimas encontram em Jesus Cristo uma
síntese que é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança. Por um lado, de
fato, a Igreja, peregrina na história, se alegra com a intercessão dos santos e
beatos que a sustentam a missão de anunciar o Evangelho, por outro lado ela,
como Jesus, compartilha as lágrimas daqueles que sofrem a separação de seus
entes queridos e, como Ele e com Ele, ele o seu agradecimento ao Pai que nos
libertou do domínio do pecado e da morte.
Entre
ontem e hoje muitos visitam o cemitério, que, como diz a palavra, é o
"lugar de descanso", à espera do despertar o final. É belo pensar que
o próprio Jesus vai nos despertar. O próprio Jesus que revelou que a morte do
corpo é como um sono do qual ele nos desperta. Com esta fé nos apoiamos -
inclusive espiritualmente—diante dos túmulos de nossos entes queridos, daqueles
que nos amaram e nos fizeram algum bem. Mas hoje somos chamados a recordar a
todos, inclusive aqueles que ninguém se lembra. Recordemos as vítimas da guerra
e da violência; muitos "pequenos do mundo" esmagados pela fome e pela
miséria; recordemos os anônimos que descansam no ossuário comum. Recordemos
nossos irmãos e irmãs assassinados por serem cristãos; e aqueles que sacrificaram
a vida para servir aos outros. Confiemos ao Senhor especialmente aqueles que
nos deixaram neste último ano.
A
tradição da Igreja sempre exortou os fiéis a rezarem pelos defuntos, em
particular, oferecendo a Celebração Eucarística por eles: esta é a melhor ajuda
espiritual que podemos dar às almas, especialmente às mais abandonadas. O
fundamento da oração de sufrágio está na comunhão do Corpo Místico. Como
reitera o Vaticano, "a Igreja peregrina sobre a terra, bem ciente desta
comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, desde os primeiros tempos da
religião cristã, tem honrado com grande piedade a memória dos mortos”. (Lumen Gentium, 50).
A
memória dos defuntos, o cuidado pelas sepulturas e os sufrágios são o
testemunho de uma confiante esperança, enraizada na certeza de que a morte não
é a última palavra sobre o destino do ser humano, porque o homem está destinado
a uma vida sem limites, que tem sua raiz e sua realização em Deus. Dirijamos a
Deus esta oração:
Deus
de infinita misericórdia, confiamos à tua imensa bondade aqueles que deixaram
este mundo para a eternidade, onde Tu aguardas toda a humanidade redimida pelo
sangue precioso de Cristo Teu Filho, morto para nos libertar dos nossos
pecados.
Não
olhes, Senhor, para as tantas pobrezas e misérias e fraquezas humanas quando
nos apresentarmos diante do Teu tribunal, para sermos julgados, para a
felicidade ou a condenação.
Dirige
para nós o teu olhar misericordioso que nasce da ternura do teu coração, e
ajuda-nos a caminhar na estrada e uma completa purificação. Não se perca nenhum
dos teus filhos no fogo eterno do inferno onde já não poderá haver
arrependimento.
Te
confiamos, Senhor, as almas dos nossos entes queridos, das pessoas que morreram
sem o conforto sacramental, ou não tiveram ocasião de se arrepender nem mesmo
no fim da sua vida. Que nenhum tenha receio de te encontrar depois da
peregrinação terrena, na esperança de sermos recebidos nos braços da tua
infinita misericórdia.
Que
a irmã morte corporal nos encontre vigilantes na oração e carregados de todo o
bem realizado ao longo da nossa breve ou longa existência. Senhor, nada nos
afaste de Ti nesta terra, mas tudo e todos nos apoiem no ardente desejo de
repousar serena e eternamente em Ti. Amem”.
Com
esta fé no destino supremo do homem, nos dirigimos a Virgem Maria, que padeceu
sob a cruz o drama da morte de Cristo e, depois, participou na alegria da sua
ressurreição. Nos ajude, Porta do Céu, a compreender sempre mais o valor da
oração de sufrágio pelos defuntos. Eles estão conosco! Nos sustente em nossa
peregrinação cotidiana aqui na terra e nos ajude a nunca perder de vista o
objetivo final da vida, que é o Paraíso. E nós, com esta esperança que nunca
decepciona, vamos em frente!"
Disponível em: http://www.zenit.org/pt/articles/francisco-no-angelus-jesus-nos-acorda-do-sono-da-morte