sexta-feira, 23 de setembro de 2011

AMOR PELOS POBRES E EXCLUÍDOS


Como é possível que ainda haja, no nosso tempo,
quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo,
quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares,
quem não tenha uma casa onde abrigar-se?
Papa João Paulo II[i]


A globalização é considerada uma conquista, porque favorece o acesso a novas tecnologias, mercados e finanças. Apesar dos avanços tecnológicos alcançados, a realidade social, dominada por um relativismo envolvente, deixa transparecer uma nova face, a qual afasta a preocupação pelo bem comum e dá lugar à realização imediata dos desejos individuais, longe da concepção integral do ser humano e de sua relação com o mundo e com Deus.

Verifica-se uma tendência à supervalorização da subjetividade, dos direitos individuais, sem critérios éticos, enfraquecendo os vínculos comunitários e resultando em prejuízo da dignidade de todos, especialmente dos mais pobres e vulneráveis, pois aumenta as desigualdades.

A situação econômica tem sido a face mais difundida da globalização, ao menos é a que tem tido maior êxito, e tem se sobressaído às outras dimensões da vida humana. Esse crescimento econômico desigual tem sido favorável para alguns países, porém prejudicial àqueles em desenvolvimento com substancial aumento das desigualdades, inclusive da violência gerada em decorrência da discriminação.

Apesar de nem todos os homens se equipararem na capacidade física e nas forças intelectuais e morais, qualquer forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa, seja social, cultural, de sexo, raça, cor, condição financeira, língua ou religião, deve ser eliminada e superada porque contrária ao plano de Deus. Enquanto muitos têm falta do básico, alguns vivem na opulência ou desperdiçam os bens, num misto de miséria e luxo existentes simultaneamente, por vezes encontrando-se a pessoa humana em condições indignas de vida e de trabalho[ii].

Ademais, a globalização revela algo novo: a exclusão social, os novos rostos pobres, novos excluídos e marginalizados da sociedade, tais como[iii]

(...) os migrantes, as vítimas da violência, os deslocados e refugiados, as vítimas do tráfico de pessoas e seqüestros, os desaparecidos, os enfermos de HIV e de enfermidades endêmicas, os tóxico-dependentes, idosos, meninos e meninas que são vítimas da prostituição, pornografia e violência ou do trabalho infantil, mulheres maltratadas, vítimas da exclusão e do tráfico para a exploração sexual, pessoas com capacidades diferentes, grandes grupos de desempregados, os excluídos pelo analfabetismo tecnológico, as pessoas que vivem na rua das grandes cidades, os indígenas e afro-americanos, agricultores sem terra e os trabalhadores das minas.

Não se trata simplesmente de pobreza, mas de algo novo, que é a exclusão de todos aqueles não suficientemente capacitados e informados, aumentando as desigualdades e mantendo na pobreza uma multidão de pessoas. Esses excluídos não são somente os “explorados”, mas “supérfluos” e “descartáveis”[iv], entretanto não desaparecerão por serem excluídos.

Eles vivem e conseguem sobreviver, pois perduram a concentração de bens, a falta de ética e de vontade política para resolver esta situação, conduzida por uma ideologia que privilegia o lucro e estimula a concorrência, a qual reproduz os processos de exclusão e opressão dos mais fracos.

Pouco a pouco, vão construindo um mundo separado, próprio em cultura e relações sociais, com estilo de vida próprio. Vivem ao lado, ainda que com comunicação muito superficial, mas não estão totalmente isolados. Basta olhar para a realidade numerosa de pessoas que sofrem sob o peso da miséria e até indigência, deixando-os sem esperança de uma vida melhor.

A miséria humana, dispõe o Catecismo da Igreja Católica, é o sinal manifesto da condição natural da fraqueza em que o homem se encontra após o primeiro pecado e da necessidade de uma salvação[v]. Por sua identificação com os necessitados, ela atrai a compaixão de Cristo que quis assumi-la sobre si, e por essa razão, também, todos aqueles por ela atingidos são objeto do amor preferencial por parte da Igreja.

Os excluídos são, também, as pessoas que vivem na rua nas grandes cidades em número cada vez maior, as quais requerem um cuidado especial, trabalho de promoção humana por parte de cada um, de toda a comunidade, da Igreja, dos governos locais e nacionais, a fim de que sejam elaboradas políticas que favoreçam essa atenção e seja proporcionada ajuda necessária para a vida, de modo que todas sejam incluídas em projetos de participação e promoção.

Os migrantes, deslocados e refugiados, por sua vez, devem ter acompanhamento pastoral. A Igreja, por considerar indispensável o desenvolvimento de uma mentalidade e uma espiritualidade a serviço pastoral dessas pessoas, desenvolve um trabalho apoiando-os em sua religiosidade, na valorização de suas expressões culturais, inclusive estabelecendo estruturas nacionais e diocesanas apropriadas, que facilitem o encontro do estrangeiro com a Igreja local de acolhida.

No que diz respeito aos enfermos, incluindo aqueles que vivem com o HIV – AIDS, a Igreja tem feito uma opção pela vida, no combate à enfermidade, de maneira especial pela Pastoral da Saúde, dando uma resposta às grandes interrogações da vida, como são o sofrimento e a morte, na promoção e defesa dos direitos das pessoas infectadas. Além de implementar informação, promove a educação e a prevenção, com critérios éticos.

Outra questão delicada é o problema da droga que atinge igualmente tanto países ricos quanto pobres. A Igreja não está indiferente, ela vem atuando na prevenção, proporcionando educação dos valores, especialmente fundados na vida e no amor; no acompanhamento, ajudando o dependente a recuperar a dignidade e vencer a doença; e apoiando as políticas governamentais na repressão das drogas.

Está comprovado que a ciência, aliada à religião, atua positivamente na recuperação dos usuários de drogas, o que justifica a atuação da Igreja Católica em muitas obras neste sentido, ainda que de maneira insuficiente diante da magnitude da problemática.

Da mesma maneira, há que se considerar as condições geralmente difíceis vividas pelas pessoas com deficiência. Essas pessoas com limitações físicas e os portadores e vítimas de enfermidades graves são constantemente excluídos da convivência familiar e da sociedade, vítimas do preconceito e discriminação, sobretudo num ambiente cultural tendencioso à marginalização e exclusão daqueles que têm menos capacidade individual para competir com os outros e de se afirmar social e economicamente.

Por último, mas não menos importante, os detidos em prisões, pessoas vítimas da violência e do crime organizado, dos mais variados tipos de delitos, que cumprem penas em recintos penitenciários visivelmente desumanos, excluídos do convívio social. Os mais atingidos são os pobres e negros e, por preconceito social, são completamente esquecidos e ignorados nessas prisões que mais os estraga que os recupera, tal qual “escolas para aprender a delinquir”[vi]. A Igreja estimula todos os esforços, a partir do Estado, da sociedade civil, das Dioceses e Pastoral Carcerária, para que os presos sejam socorridos, independentemente de serem “merecedores” ou não, devendo receber um mínimo de atenção e ajuda, de respeito, apoio físico e psíquico.

Ademais, há necessidade de cuidar das famílias dos presos como complementação à visita aos próprios internos. Lamentavelmente, o sistema penal está mais voltado para a repressão do que para a prevenção e recuperação.

O que de fato se vê é o crescente número de pobres e excluídos, sob novas formas de pobreza manifestada em pessoas, grupos de pessoas, bem como regiões desfavorecidas, causadas pelo desemprego, o emprego precário, o analfabetismo, a marginalidade.

Se, verdadeiramente, parte-se da contemplação de Cristo, certamente se verá o rosto daqueles com quem o próprio Jesus se identifica, pois há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a Igreja a uma opção preferencial por eles, dando testemunho do amor de Deus, de sua providência, de sua misericórdia: Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; estava nu e destes-me de vestir; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo (Mt 25,35-36).

Pobres e excluídos desde sempre existiram, conforme se vê no Antigo Testamento: Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra (Dt 15,11). Pobres e excluídos sempre existirão, como se vê no Novo Testamento, Jesus faz suas essas palavras: Pois sempre tereis pobres convosco; mas a mim nem sempre tereis (Jo 12, 8).

Este é um dos grandes desafios dos discípulos e missionários de Jesus: discernir, à luz do Espírito Santo, e responder a essa realidade de modo adequado e ético, colocando tudo a serviço da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, anunciando Cristo, com a própria vida, com a profissão de fé e com a Palavra de Deus, onde não é aceito, em todos os espaços públicos e privados do mundo.

O Criador, autor e dono da vida, colocou a serviço do ser humano tudo o que foi criado, no qual se manifesta a dignidade da pessoa humana. Essa dignidade alcançará sua plenitude quando Deus for tudo em todos, Ele é o Senhor da vida e da história. Por isto, a opção preferencial pelos pobres impulsiona os discípulos e missionários a procurarem alternativas novas e criativas a fim de responder a outros efeitos da pobreza.

Reafirmando as palavras de Jesus Pois sempre tereis pobres convosco; mas a mim nem sempre tereis (Jo 12, 8), até o seu regresso, os pobres e excluídos estão sob a responsabilidade dos discípulos e missionários. É pelo que tiverem feito pelos pobres, que Jesus reconhecerá os seus eleitos, assim, as coisas indispensáveis são de direito dos pobres, por ser um dever de justiça e não um ato de caridade. Quando se dá aos pobres as coisas fundamentais, não se pratica com eles grande generosidade pessoal, mas se está devolvendo o que é deles:

O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com um coração humilde. Jesus é enviado para evangelizar os pobres (Lc 4,18). Declara-os bem-aventurados, pois o Reino dos Céus é deles (Mt 5,3); foi aos pequenos que o Pai se dignou revelar o que permanece escondido aos sábios e aos entendidos. Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz; conhece a fome, a sede e a indigência. Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para se entrar em seu Reino.[vii]

A opção preferencial pelos pobres e excluídos, portanto, deve ser a prática cristã, pois requer a disponibilidade de cada cristão, ao responder com a própria vida enquanto imagem e semelhança de Cristo, às responsabilidades sociais, no correto uso dos bens.

Ademais, a opção pelos pobres não pode ficar restrita a um plano teórico e emotivo, requer o cuidado particular com aqueles que se acham em posição de marginalidade e das pessoas cujas condições de vida lhes impedem um crescimento adequado. Requer solidariedade, atitudes sólidas comprometidas com a defesa da vida, desde a concepção até a morte natural, com a defesa dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos.

E mais, levando em consideração a dimensão mundial abraçada pela questão social, num mundo globalizado em que as ações ultrapassam as fronteiras, este amor preferencial não pode deixar de abranger as imensas multidões de famintos, mendigos, sem-teto, sem assistência médica e, sobretudo, sem esperança de um futuro melhor. Todo homem deve ter a possibilidade de usufruir do bem-estar necessário para seu pleno desenvolvimento. Por isto, Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para o uso de todas as pessoas, sem excluir nem privilegiar ninguém, a fim de que cada um tenha acesso aos bens criados de maneira equitativa, equilibrada, justa.

A propósito, a solidariedade é a única maneira de resolver os problemas sócio-econômicos, chegando a ser uma ordem moral, dela dependendo em parte a paz mundial. Solidariedade esta das nações e dos povos entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa.[viii]. É dever de solidariedade e de caridade, por responsabilidade moral grave, das nações ricas para com aquelas que não podem garantir sozinhas os próprios meios do seu desenvolvimento ou foram impedidas de fazê-lo por trágicos acontecimentos históricos[ix].

A solidariedade deve começar dentro do seio familiar, comunidade na qual, desde a infância se podem e devem ser assimilados os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A família deve ser o lugar onde se inicia a vida em sociedade[x], onde os seus membros aprendam a cuidar e a responsabilizar-se pelos jovens, pelos velhos, pelos doentes e deficientes e, também, pelos pobres[xi], por isso deve ser ajudada e defendida pelas medidas sociais apropriadas, na incapacidade de desempenhar suas funções. A solidariedade não está vinculada apenas à pobreza material, mas nas suas variadas formas, tais como, cultural e religiosa, pois há o sinal da presença de Cristo quando “os pobres são evangelizados” (MT 11, 5).

Nos pobres e excluídos a dignidade humana está manchada, contradizendo o projeto de Deus e desafiando os cristãos a um compromisso ainda mais efetivo em favor da vida. Esse é um dos maiores desafios e compromissos dos discípulos missionários de Jesus Cristo, no empenho por uma vida mais digna, os quais têm lutado na promoção humana e em defesa da vida, cooperando, participando, dedicando-se à Igreja e à sociedade em busca de uma efetiva participação na vida eclesial, familiar, cultural, social e econômica, criando espaços e estruturas que favoreçam maior inclusão dos abandonados, excluídos e ignorados em sua miséria e dor.

A Igreja, mergulhada nas profundezas da existência humana, proclama os direitos desta. Ela vê em cada rosto e angustia-se com as milhões de pessoas que não podem levar uma vida digna. Ao fazer a opção pela vida, opta pelos pobres e excluídos, acolhendo-os, acompanhando-os e postulando que se chegue a uma condição de vida mais humana e mais equitativa, consequentemente as excessivas desigualdades econômicas e sociais, bem como a exclusão e a violência, são um verdadeiro escândalo da realidade, “contrárias à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e à paz social”[xii]. A Igreja é o instrumento e sinal de salvação para todos, na medida que se compromete com esses desafios. Por sua natureza permanentemente missionária, a Igreja realiza sua vocação ao assumir a missão evangelizadora e envia seus discípulos a edificar o mundo na perspectiva do Reino de Deus.

O anúncio da Boa Nova é um desafio permanente, que convoca todas as forças, pois a missão evangelizadora significa o amor de Deus para com todos, especialmente os pobres e os que sofrem, não podendo ser separado da solidariedade com os necessitados e da promoção humana integral[xiii]. Conforme afirmou o Papa João Paulo II em sua Carta Encílcica Redemptoris Missio (RM), a Igreja em todo o mundo quer ser a Igreja dos pobres. Ela é chamada a partilhar com os pobres, oprimidos e excluídos de qualquer gênero, de todos os cantos da terra.

Optar pelos pobres e necessitados é aderir ao projeto de Jesus, conforme se constata no texto bíblico sobre o último julgamento, expresso em Mt 25, 21-46, que expressa a vinda do Filho do Homem em sua glória, quando todos serão submetidos a julgamento, serão separados uns dos outros; aqueles que tiverem sido justos, tiverem acolhido, alimentado, vestido e cuidado na doença os pequeninos, visitados os presos, irão para a vida eterna, enquanto os que disso se omitirem, ou negarem, irão para o castigo eterno.

A Doutrina Social da Igreja dispõe com muita clareza essa “opção preferencial” nos parágrafos 2443-2449 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) e o Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI), no número 182, cuja expressão é sinônimo de “amor”, trazendo implicitamente a idéia de que qualquer opção cristã deve ser guiada pela caridade.

Deve-se ter o cuidado para não dar a entender ser uma redundância ou uma parcialidade ou favoritismo. Na verdade, a expressão “preferencial” não significa afirmar que seja exclusiva ou excludente, pois Deus não tem um amor maior por uns do que por outros. Amor preferencial é um amor que dá prioridade em relação ao tempo, anterioridade na ordem do tempo. Talvez, o mais apropriado seja usar a expressão “opção pelos pobres”. Dessa maneira, a ação em favor dos pobres é manifestada como opção preferencial, justificando o seguimento de Jesus pela Igreja e o seu engajamento em todos os espaços da vida social: “A pobreza da Igreja deve ser sinal e compromisso de solidariedade com os que sofrem” (Medellin 14,7), ser Igreja dos pobres e marginalizados para ser a Igreja de todos, isso é mais que prioridade.

Enfim, existem muitas formas de pobreza, tais como extrema privação material, opressão injusta, enfermidades físicas e psíquicas e, por fim a morte. Também o são, por exemplo, a negação ou a limitação dos direitos humanos, como o direito à liberdade religiosa, o direito de participar na construção da sociedade, a liberdade de associação, ou de constituir sindicatos, ou de tomar iniciativas no campo econômico[xiv].

Por isso, os pobres e excluídos realmente são atraídos por Cristo, Ele os assumiu. Todos aqueles que a pobreza atinge são objeto de um amor preferencial por parte da Igreja, que não deixou nunca de trabalhar por aliviá-los, defendê-los e libertá-los. Ela o faz por meio de inúmeras obras de beneficência, que continuam sendo, sempre e por toda parte, indispensáveis.

O lugar ideal para se colocar em prática esses princípios é a comunidade porque não se pode ser cristão fora dela. Por meio da comunidade Jesus Cristo se torna presente e se multiplica pelo mundo inteiro. Aliás, esta proposta encontra-se presente no espírito do Concílio Vaticano II e permeia, fundamentalmente, todas as Igrejas cristãs, as quais devem apresentar Jesus Cristo como aquele que dá sentido à vida e à história, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem; como Caminho, Verdade e Vida; rosto humano de Deus e rosto Divino do homem.

Diante das desigualdades crescentes no mundo, é preciso uma maior conscientização da solidariedade. Ser solidário, a começar pela comunidade local, pela própria família, lugar onde se inicia a vida em sociedade, onde seus membros aprendem a cuidar e a responsabilizarem-se uns pelos outros. Para ser fiel ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais elementares e profundas do mundo, deve-se fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão. Da comunhão dentro da Igreja, a caridade abre-se naturalmente ao serviço universal, frutificando “no compromisso dum amor ativo e concreto por cada ser humano” [xv], pois ninguém pode ser excluído.

Há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a Igreja a uma opção preferencial por eles, testemunhando o estilo do amor de Deus, a sua providência, a sua misericórdia. O Papa João Paulo II enfatiza a necessidade de construir uma autêntica cultura da solidariedade ou a civilização do amor, a qual se deve colocar a promoção da justiça[xvi]·, que nem de perto representa dar o supérfluo a quem necessita:

É por isso que, no coração duma autêntica cultura da solidariedade, tem-se de colocar a promoção da justiça. E não se trata apenas de dar o supérfluo a quem passa necessidade, mas de “ajudar povos inteiros, que dele estão excluídos ou marginalizados, a entrarem no círculo do desenvolvimento econômico e humano. Isto será possível não só fazendo uso do supérfluo, que o nosso mundo produz em abundância, mas, sobretudo alterando os estilos de vida, os modelos de produção e de consumo, as estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades”.

De fato, a justiça só se poderá realizar plenamente quando os homens forem em socorro uns dos outros, em primeiro lugar dos pobres, excluídos ou marginalizados, porque é justo que estes também tomem parte no círculo do desenvolvimento econômico e humano. É uma questão de consciência, exigindo-se inclusive uma mudança do estilo de vida, dos modelos de produção e de consumo, das estruturas de poder, pois nenhum Estado, por mais poderoso que seja, conseguirá, por si só, isso fazer.

Enfim, deve haver um crescente entendimento entre os países ricos e os pobres, levando em conta os interesses da grande família humana, especialmente dos povos economicamente carentes e que necessitam de maior apoio para o seu desenvolvimento, uma vez que só o amor e a solidariedade poderão satisfazer os grandes anseios da humanidade.

Brasília/DF, 22 de setembro de 2011.
Maria Auxiliadôra Martins Melo



[i] Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte (NMI) 50a.
[ii] Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS) 63c.
[iii] Documento de Aparecida (DAp), nº 402.
[iv] DAp, nº 65.
[v] Catecismo da Igreja Católica (CIC), § 2448.
[vi] DAp, nº 427.
[vii] CIC, § 544.
[viii] CIC, § 1941.
[ix] CIC, § 2439.
[x] CIC, § 2207.
[xi] CIC, § 2208.
[xii] GS 29c.
[xiii] DAp, nº 550.
[xiv] Carta Encíclica Sollicitudo rei Socialis (SRS) 15e.
[xv] NMI 49.
[xvi] João Paulo II. Mensagem para o XXXIV Dia Mundial da Paz - 2001, 17c. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_20001208_xxxiv-world-day-for-peace_po.html> Acesso em out/2010; CA, 58.


Nenhum comentário:

Postar um comentário