segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO - Jo 6, 1-15

Jesus passou para a outra margem do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades (que, na realidade, é um lago) e uma grande multidão o seguia, porque tinha visto os sinais que ele realizava nos doentes e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Eles perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão. Então, Jesus subiu à montanha e aí se sentou com os seus discípulos.

Estava próxima a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.

Então, quando Jesus levantou os olhos e viu a grande multidão que a ele acorria, disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que eles comam?" Disse isso para pô-lo à prova, pois Ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”. Ora, cada moeda devia valer uma fortuna e nem duzentas moedas seriam suficientes para comprar alimento para tanta gente... Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isto para tanta gente?” Só por curiosidade, os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”) cuja soma dá “sete” – o número “sete” significa totalidade. É uma totalidade fracionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.

Enfim, quando Jesus levantou os olhos e viu a grande multidão que a ele acorria, peguntou a Filipe: "Onde compraremos pão para que eles comam?" Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Jesus vai provar que é possível encontrar uma solução. Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos os homens. E fez o mesmo com os peixes.

Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” Ora, uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei. Jesus não aceita. Ele veio sim, saciar os que têm fome, que são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou econômico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.

Ademais, os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero. No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.
Brasília 27.07.2012
Maria Auxiliadôra

Nenhum comentário:

Postar um comentário